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quinta-feira, abril 06, 2006

Sic transit gloria mundi #17

Tomando em atenção as últimas opiniões de "especialistas" que referem que o Estado Social acabou e que será necessário encontrar novas caminhos económicos, consegue-se perceber claramente que o mais recente cataclismo que anuncia o fim do mundo como o conhecemos chegou.
Liberalistas, economistas, ideólogos ou simpatizantes de Direita não se cansam de queixar que "o modelo socialista arruinou a Europa" (a mim parece-me que o arruinou a Europa foi a excessiva dependência, que começou com o Plano Marshall, dos EUA). Urge encontrar um novo modelo. E nós, como bons portugueses, já estamos aí, prontos a seguir a última "onda" ou "tendência" mundial, como se parar para pensar, reflectir e analisar seja uma praga a exterminar. Parece-me a mim que a falência do modelo Estado social é, por enquanto, tão falsa como os rumores de que o petróleo está a acabar. Até ver, é apenas mais um mito urbano. Levanto apenas uma questão: será que o Estado social acabou mesmo? Ou apenas acabou como o conhecemos? Ou não acabou? Lembro-me sempre (e Freakonomics, de Steven Levitt e J.Dubner, ajudou-me a relembrar) que os especialistas e analistas direccionam os seus estudos e opiniões na direcção que mais lhes interessa, consoante o seu posicionamento político, social, profissional, entre outros factores (sem que isso implique que sejam todos desonestos).
Se se ler relatos acerca do que se fez com as especiarias vindas da Índia e com os dinheiros do lucro provenientes do comércio desse produto, se calhar é-se levado a perceber que o desperdício de capitais e boas oportunidades é (infelizmente) uma "questão genética" dos portugueses. Independentemente de se estar certo ou errado ao tomar opções e decisões, senão teriamos sempre de referir todas as questões controversas onde não existe acordo, como o aborto, a regionalização ou o que quer que seja, há que apontar numa direcção. Parece-me a mim que o nosso (e é nosso, mesmo que não se tenha votado nele) Governo está a fazê-lo. Tenta tomar medidas para mudar o estado de coisas, parece-me estar a tentar desenvolver cada vez mais mecanismos anti-fraude (fiscal, social etc), e de estar a promover o desenvolvimento de ferramentas de apoio à vida, como a formação e requalificação de desempregados e estudantes. Se resultará? Talvez sim, talvez não, mas teremos poder de voto e de decisão, no primeiro caso nas urnas, o segundo nas ruas, a lutar por aquilo que achamos ser o melhor para nós (ou pelo menos deveríamos fazê-lo).
Não acredito que um ambiente de rotura com o chamado "estado social", num cenário de crise e desemprego seja a melhor solução para estimular uma população e economia praticamente na miséria. 25% dos portugueses vive no limiar da pobreza, números que não são meus, infelizmente não estou em condições de adiantar quem chegou a esta conclusão, sei apenas que são reais. Parece-me apenas lógico que tal rotura apenas serviria para desamparar quem não tem amparo, para deixar quem não tem soluções e saídas num limbo de onde é díficil sair. Um bébé começa por gatinhar e depois, levanta-se e caminha. Esperemos que, primeiro, o país se levante e depois combata essa praga do socialismo e do Estado social. (Chamo à atenção dos mais distraídos que estou a ser irónico).
Não é possível apagar-se (todos) os erros cometidos no passado, a nível de governação e de escolhas políticas e sociais. Lembre-se que a Revolução de Abril foi à 32 anos, mas talvez a Revolução de Mentalidades comece agora. Em nome de um bem maior, e sem excluir ninguém, nem mesmo aqueles, que do ponto de vista teórico de economistas e homens do cifrão, se possam encarar como pesos-mortos. Se cada um fizer a sua parte, tornar-se-à bem mais fácil. Se os Governos poderem ou ajudar ou obrigar a fazê-lo, é de agradecer e aproveitar a oportunidade.